<i>Apagão</i> do PCP
A passagem de mais um aniversário sobre a Revolução de Abril, acto e processo mais moderno e avançado da nossa época contemporânea, foi alvo de tratamento profundo – nuns casos mais, noutros menos – por parte da nossa comunicação social. Muitos foram os trabalhos que surgiram, em grande medida a propósito do 40.º aniversário das eleições para a Assembleia Constituinte. Muito se poderia dizer sobre a forma como nesta efeméride se passou ao lado do conteúdo da Constituição que resultou desse processo, do contributo da luta dos trabalhadores e do povo e, particularmente, do PCP nesse resultado.
De volta a 2015, as várias expressões de comemoração (e luta) do 41.º aniversário da Revolução foram sujeitas a um tratamento minimalista por parte da generalidade da comunicação social. Uns optaram por dar destaque a uma sessão solene e ao discurso de um Presidente da República que passou 20 dos últimos 30 anos com responsabilidades de governo, um dos obreiros da contra-revolução. Para dar um toque de pluralismo foram à procura de comentários sobre o discurso presidencial. Já sobre a afirmação das conquistas e valores de Abril consagrados na Constituição como respostas aos problemas actuais e futuros que o PCP expressou, pouco (ou nada) se viu.
Na rua, o destaque foi para o desfile popular da Avenida da Liberdade em Lisboa, onde milhares afirmaram a actualidade dos valores de Abril, com particular destaque para a juventude e a JCP. Num momento em que os valores de Abril são postos em causa pelos partidos da política de direita, não existe uma referência à consigna que dá nome ao programa do PCP – Os Valores de Abril no Futuro de Portugal.
Da parte da RTP, no noticiário das 20 horas, a rasura da presença do PCP no desfile foi total. Houve espaço de imagem para quase todos: dentro ou fora da zona da comissão promotora lá couberam dirigentes do PS e do BE, candidatos presidenciais. Só o PCP, mesmo com imagens recolhidas e depoimento gravado, foi apagado!
Isto numa semana em que numa entrevista da Antena1 (a uma dirigente de outro partido!), as posições do PCP sobre a nacionalização da Banca foram escandalosamente desvirtuadas pela própria jornalista.
As comemorações de Abril, nas suas diferentes formas e dimensão, são em grande medida um reflexo da diversidade que nasceu com Abril. Se é evidente que a dimensão destas comemorações nunca caberão num noticiário de televisão, rádio ou de uma página de jornal (seja em papel ou em versão electrónica), há um elemento que não podemos deixar passar em claro: o apagamento da participação do PCP, tantas vezes só com o povo e os trabalhadores ao seu lado, na resistência ao fascismo, em cada conquista de Abril, na sua consagração pela Assembleia Constituinte e, hoje, na luta pelos Valores de Abril no Futuro de Portugal.
E tudo isto após duas semanas em que das quatro notas de imprensa e uma nota do Secretariado do Comité Central não houve eco na imprensa. Vale-nos a confiança de que, mais cedo que tarde, o nosso País retomará o projecto libertador de Abril.